Monique Barcellos
Teor: Ironia com algum factual
Valoriza-se e consagra-se hoje o Obama Day!
A imprensa mundial anuncia e o povo elege o primeiro presidente negro em um país segregado e ironicamente denominado Estados Unidos. Realmente é um marco na história da política americana e mundial. O primeiro negro na Casa Branca.
Talvez por toda a repercussão e emoção, a situação econômica dos americanos (que de certa forma acaba refletindo nos quatro cantos) não seja atualmente o principal foco da notícia. Pelo menos, há um mês atrás os apocalípticos anunciavam a maior crise da economia americana desde 1929.
O lado negro da força parece emitir a ideia de “ocupação”, quase uma ode ao movimento black panther, figh the power style. De fato essa ascensão ideológica pode ter um peso e também um mérito na questão segregacionista. Uma curiosidade é que a vitória de Obama pode indicar, em outro viés, que o eleitorado americano se fez valer de uma reação desesperada decorrente ao vexame do antecessor, que (“Aleluia!”), não precisamos citá-lo mais como Vossa Excelência. Até aí, nada mais plausível!
Hoje à tarde em Washington, Obama discursou para 2 milhões de pessoas a 7 graus negativos. Foi a primeira vez também que o Capitólio foi aberto ao público. Desde sua envolvente história pessoal, passando pelas pesquisas de voto, até a posse, Obama vem quebrando mil paradigmas, a não ser no discurso de posse. Contundente, com alguns “poréns”, afirmou que entre mudanças já esperadas, como a retirada das tropas do Iraque, o Presidente eleito ressaltou que o povo americano não deve deixar de ter orgulho do American Way of Life.
Essa última a ressalva no discurso me intrigou um bocado. O resgate, ou melhor, a reafirmação do orgulho americano é um ponto chave na política de Obama? Os americanos sabem que estão desmoralizados internacionalmente. E Obama sabe que seu povo vê nele a esperança de um resgate moral. Americanos carentes??
Aliás, um turbilhão de impressões rondou nessa minha cabeça de eleitora que viu o Lula, gerado na classe operária do ABC Paulista, depois de festejado e reeleito se tornar o grisalho e de Botox no rosto, que no máximo faz alusão ao passado quando coloca um simpático boné, regalo de algum ex-colega de trabalho. Prato cheio para os “intelecto-boçais” que colocavam sempre o dia-a-dia do nosso Presidente em tom de embriaguez mórbida, lá com seus ditados populares. Meus pensamentos e precipitações me deixaram mais tensa do que a "Beyonça", se escalando pra cantar no Obama Day.
Desafio maior de Obama: Economia? A própria política? O preconceito? A pesada capa de anti-herói?

(...)Os caldos???

Vamos aos rótulos ridículos: Primeiro havaiano, surfista, negro Presidente dos Eua. Uhuull! Isso aí (lelesk, brow, ou nigga?)!!!
Não posso pensar em prever o futuro, até porque como muitos, devido aos acontecimentos, ao Obama Day, assim como muitos eu já me sinto no futuro. Com alguma esperança, mas mesmo assim não acho que todo esse romantismo de cor de pele seja o suficiente para um cidadão como Obama ter chegado onde chegou (a cor da cara ajuda ou atrapalha?), ou ainda para encarar os próximos desafios como Presidente dos Estados Unidos da América.
Acredito mais do que nunca que ele é o cidadão que não vai desviar o olhar para para os desfavorecidos, que será voluntarioso, independente da cor da pele dele ou do outro. Temos anos de obstrução intelectual voltada para esses valores e rótulos, mas creio que devíamos fazer o mesmo. Poder proclamar Barack Obama não somente como o primeiro negro na Casa Branca, mas que possa ser o melhor, mais justo e, especialmente, pacifista.
DEZ ANOS DEPOIS DO HIT, INICIALMENTE CONTRARIANDO AS EXPECTATIVAS DE TUPAC AMARU SHAKUR, IRONICAMENTE, BARACK OBAMA CHEGA À PRESIDÊNCIA DOS EUA COM O MESMO SLOGAN: "CHANGES":
"We ain't ready to see a black president, uhn!" - Changes - 2Pac
Basta aguardar para saber se estamos prontos ou não para ver um presidente negro na América diante de uma nebulosa ao eco de Luther King...
Monique Barcellos - Jornalista